Os bordões do Choque de Cultura já viraram parte do nosso jeito cotidiano de falar. Eu não sei mais argumentar sem antes dizer “nem existe isso, ouve o que você está falando”. Mas você já reparou como as discussões dos grandes nomes do transporte alternativo são inúteis? Eles se exaltam, brigam, e nunca chegam a conclusão nenhuma. Na comédia, isso é ótimo. Na vida real, não. O problema é que tem gente conversando igual a eles sem perceber que isso pode ser prejudicial para a comunicação. 

Nesse caso, o calo não são os bordões, mas a forma como eles dialogam. Rogerinho, Maurílio, Julinho e Renan, na verdade, não conversam, eles só jogam opiniões no ar. Eles até parecem concordar ou, na maioria das vezes, discordar. Mas eles não estão nem trocando opiniões. A frase de um não se relaciona com o do outro, e assim sucessivamente. Já reparou?

Eu não tinha parado para pensar nisso até ver essa entrevista no qual Caito Mainier, que interpreta Rogerinho do Ingá, conta que Pedro Leite, roteirista do programa, destacou isso. “Ele [Pedro Leite] falou que os personagens não debatem entre si, eles falam máximas e verdades meio que paralelas. Ninguém está ouvindo um ao outro. “Ah é, concordo contigo”. Não. Ele [aponta para Raul Chequer que faz Maurílio] fala uma coisa e Julinho fala outra e o outro fala outra”. 

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Mesmo sem conversar, brigamos. Com pode?

Não conversamos. Monologamos. E o mais incrível é que, mesmo assim, brigamos. Um tempo atrás, ouvi uma entrevista com um pesquisador especialista em discussões. (Sério, essa é a especialização dele). E ele deu um bom exemplo de briga que não é briga. Um amigo pergunta “você acha que robôs vão roubar nossos empregos?” e o outro responde “não, isso vai demorar muito tempo ainda”. O primeiro retruca que “de jeito nenhum, já tem várias matérias falando que a robótica está super avançada”. E o segundo reclama que “não, isso é exagero também¨ . A briga começa.  Mas, respira um pouco. Pronto. Deu pra perceber agora que os caras estão falando coisas diferentes? Notou que eles, na verdade, concordam?  Os dois parecem pensar que os robôs vão sim acabar com os empregos deles. Apenas um acha que isso acontecerá num futuro próximo e o outro, num futuro bem distante. 

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Vamos conversar direito

Muitas vezes cometemos o mesmo erro. Não respondemos exatamente o que o outro perguntou. Ou não acrescentamos algo ao que foi dito. Não questionamos o dado apresentado,  não construímos um raciocínio em cima do que foi exposto. Apenas falamos. Damos nossa opinião. Dizemos o que já íamos dizer de qualquer jeito, independente do interlocutor. 

Acho que podemos continuar usando os bordões do Choque de Cultura e repetindo as piadas do programa porque elas nunca perdem a graça. 

Mas na hora de conversar sério, vamos tentar não imitar o exemplo deles. É mais interessante trocar ideias de fato do que falarmos sozinhos com alguém na nossa frente. 

Falo com tranquilidade.

 

 

(O trecho da entrevista sobre as conversas cruzadas está no minuto 15m14) 

5 respostas para “Não fale como os caras do Choque de Cultura”

  1. Muito verdade e principalmente pelas redes sociais que se vive uma “ intolerância” incrível que se você discorda do ponto de vista da maioria, aí não pode nem sair de casa 🏠.

    1. Avatar de suzana valenca
      suzana valenca

      Eu acho que redes sociais são fóruns mesmo. Estamos nas redes para discutir. Com respeito e com fatos, toda conversa é válida e necessária. Temos que poder discordar sim, até porque, não há uma verdade absoluta para tudo. Muitas vezes, existem diferentes formas de se estar "certo". Concorda? Agora o que não é aceitável é aproveitar o fórum aberto para perseguir e prejudicar os outros. Infelizmente, muita gente tem se valido da liberdade das redes para se sentir no direito de ofender. Isso nunca é bom, não é mesmo?

  2. Com certeza Suzana muito bem colocado suas palavras!!!

  3. Poxa… fico muito triste quando isso acontece. vejo que a comunicação não foi completa e, provavelmente, não será nada proveitosa.

    1. Dá uma frustração mesmo, não é? Aquele sentimento de que estamos falando sozinhos. Como não dá para mudar a postura das outras pessoas, acho que podemos ficar atentos para não fazermos isso com quem estamos conversando.

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