Randall Munroe é um cara muito sabido. Ele é ex-engenheiro da Nasa, desenha tirinhas sobre ciências e é autor de vários livros. Além disso tudo, ele é alguém que entende e valoriza o “não saber”. Mês passado, ouvi uma entrevista em que ele comenta como é chato essa mania de fingir que sabemos de tudo. Como poderemos nos comunicar bem desse jeito? No papo com o jornalista Ezra Klein, Munroe diz que decidiu dar sua contribuição para o fim dessa farsa tão comum com uma pequena resolução. Ele se comprometeu a sempre perguntar o significado da palavra quando ouvir um termo desconhecido no meio de uma conversa. Achei muito legal porque já fiz o contrário disso muitas vezes. Morro de vergonha de ficar boiando. Que besteira, não é? Mas, quem nunca?

No livro mais recente, Munroe fala mais um pouquinho sobre como não faz sentido obrigar o outro ou nos sentirmos obrigados a saber de tudo. Do seu jeito super explicativo, ele mostra matematicamente porque seria impossível “todo mundo” saber de alguma coisa. Mesmo que nós adquiríssemos todo conhecimento do mundo até os 30 anos, ninguém nasce sabendo de nada. E tem sempre gente nova nascendo a cada instante. Usando dados demográficos da população população norte-americana como exemplo, Munroe diz que, existiriam sempre, só nos EUA, em torno de 10 mil pessoas entre 0 a 30 anos, aprendendo algo pela primeira vez todos os dias.

Sempre haverá alguém aprendendo alguma coisa nova todos os dias. “How To” - Randall Munroe.

Sempre haverá alguém aprendendo alguma coisa nova todos os dias. “How To” – Randall Munroe.

Munroe fala que não tira onda de quem admite que não sabe alguma coisa ou que nunca aprendeu como fazer algo. “Se você fizer isso, você só estará fazendo com que essas pessoas não digam a você quando estiverem aprendendo”, diz o autor, “e aí você estará perdendo toda a diversão“.

Não saber dá vergonha. Dá nervoso. Mas é a nossa realidade imutável. Vamos parar de fingir? Semana passada, meu amigo Sérgio Mendonça publicou um texto maravilhoso sobre a beleza do desconhecido. Ele escreveu:

“O espírito aventureiro que induz cientistas, exploradores e pessoas comuns ao novo é ameaçado quando existem certezas inabaláveis, poucos questionamentos e medo do desconhecido. O que já sabemos deve ser apenas a base para o que vem a seguir. Talvez o grande equívoco seja considerarmos que a ilha do conhecimento seja ampla o suficiente para vivermos nela sem grandes mudanças. Do abstrato ao concreto, são as modificações no nosso modo de pensar que trazem o progresso que esperamos da vida. E para isso, é preciso deixar o porto seguro da ilha do conhecimento. (…) O limite é a nossa curiosidade”.

Eu concordo, e você?

(Imagem de cabeçalho: Gabriel na Unsplash)

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