No livro Utopia para Realistas, que eu amo, o economista holandês Rutger Bregman dá uma ótima explicação sobre o que é “dissonância cognitiva”.

O termo foi cunhado por Leon Festinger em 1957, mas está incrivelmente atual hoje em dia.

No exemplo de Bregman, a dissonância é o que faz a gente brigar por política, mas não por pepinos. É também o que faz pessoas muito inteligentes ficarem, de repente, muito “burras” para defenderem ideias equivocadas.

Bregman explica:

Nenhum de nós é imune ao fenômeno que Festinger descreve: “dissonância cognitiva” é o termo que ele cunhou para o problema. Quando a realidade se choca com nossas convicções mais profundas, preferimos recalibrar a realidade a ajustar nossa visão de mundo. Não só isso: também nos tornamos mais rígidos em nossas crenças do que antes.

Note que, quando se trata de questões práticas, somos bastante flexíveis. A maioria das pessoas está disposta a aceitar conselhos sobre como remover uma mancha de graxa ou a melhor forma de cortar um pepino. Mas quando nossas ideias políticas, ideológicas ou religiosas entram em jogo é que nos tornamos mais in transigentes. Costumamos bater o pé e defender nossa posição a todo custo quando alguém desafia nossas opiniões sobre penas criminais, sexo antes do casamento ou aquecimento global. Essas são ideias às quais as pessoas costumam se apegar, o que torna mais difícil abandoná-las mesmo quando se tenta convencê-las do contrário. Admitir que nossas ideias estão erradas afeta nosso senso de identidade e nossa posição em grupos sociais – igreja, família ou círculo de amizades.

Um fator que certamente não está envolvido nesse fenômeno é a estupidez. Pesquisadores da Universidade Yale demonstraram que pessoas com escolaridade mais alta são ainda mais irredutíveis em suas convicções do que as demais. Afinal, o ensino superior lhes dá ferramentas para defenderem suas opiniões. Pessoas inteligentes têm grande experiência em encontrar ar argumentos, especialistas e estudos que confirmem suas crenças preexistentes, e a internet tornou mais fácil do que nunca consumir as próprias opiniões, com evidências a apenas um clique de distância.

Pessoas inteligentes, conclui o jornalista americano Ezra Klein, não usam seu intelecto para obter a resposta correta; usam-no para obter o que elas querem que seja a resposta.

Foto de Igor Miske na Unsplash

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