A professora de direito Susan Crawford tem um alerta importante:

“Embora ainda falemos sobre ‘a’ Internet, temos cada vez mais dois mercados de acesso separados: com fio de alta velocidade e sem fio de segunda classe”.

Quem tem wi-fi em casa tem uma internet completamente diferente de quem tem que se contentar com o acesso pelo celular.

“O acesso de alta velocidade é uma superestrada para aqueles que podem pagar, enquanto as minorias raciais e os mais pobres devem se contentar com uma ciclovia.” As conexões móveis custam mais proporcionalmente, estão sujeitas a limites de dados e são menos abertas e adaptáveis. Os dispositivos portáteis simplesmente não podem ser comparados aos computadores pessoais se você quiser fazer um programa de ensino à distância, preencher um currículo, abrir um negócio, programar um aplicativo ou escrever uma longa redação.

A socióloga Eszter Hargittai conclui que só o acesso em si não resolve desigualdades, ao contrário. Quando caímos na ilusão de que disponibilizar conexão à internet vai diminuir abismos sociais, estamos deixando eles ainda pior. 

Aprendi tudo isso no livro The People’s Platform: Taking Back Power and Culture in the Digital Age, da documentarista Astra Taylor. O mais maluco é que a obra é de 2014 e parece só ter ficado mais atual. Ideias sobre o mundo digital formuladas 10 anos atrás soam jurássicas hoje. Talvez seja até óbvio pensar que a internet que eu acesso e a que alguém que ganha salário mínimo acessa sejam bem diferentes. Mesmo com o progresso da tecnologia, a velocidade e as possibilidades da conexão pelo celular ainda ficam atrás das do acesso fixo. Especialmente se você não é um dos poucos que pode arcar com o mais novo modelo telefone da maça.

Mesmo considerando que o peso do passar do tempo, eu penso que a inexistência de uma internet única ficou ainda mais forte. Some-se aos fatores técnicos agora os filtros, as bolhas, as narrativas e as percepções. Indústrias e grupos políticos literalmente ganham mais e mais dinheiro nos mantendo em “internets” separadas. A polarização é lucrativa.

Isso me lembrou do analista político Dan Pfeiffer, do podcast Pod Save America, que disse: “Não compartilhamos mais a mesma realidade”. O alerta dele é o seguinte: quanto mais nos individualizamos e ficamos nas nossas bolhas, mais perdemos contato com a realidade coletiva. Estamos cada vez mais isolados nos nossos mundinhos…

Foto de Stephen Phillips – Hostreviews.co.uk na Unsplash

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