Até onde podemos evoluir quando focamos na interação empática? Para a antropóloga Carolina Zatorre, o limite da empatia está no desconhecido. Não dá para exercer a empatia em sua plenitude quando não se conhece de fato a vivência do outro.

Parece até um pouco óbvio. Não é dá para ter empatia pelo o que você não conhece, certo? Mas eu confesso que, animada com as minhas leituras sobre enxergar o outro, não havia parado para pensar sobre até que ponto podemos realmente fazer isso.

Zatorre responde a pergunta e dá uma solução para o problema em duas etapas em um artigo muito bem construído. O texto foi publicado este mês no site da Kyvo, a empresa de inovação que a antropóloga comanda. 

Ela explica que, primeiramente, é preciso estudar. A empatia é inata ao ser humano. É uma capacidade com a qual já nascemos. É possível fortalecê-la com exercícios e técnicas. Entretanto, não dá para confiar “apenas” em nossos instintos quando precisamos aplicar a empatia de uma forma prática. Aí entra o que Zatorre chamou de “o papel primordial da pesquisa”. Eu chamaria também de “o papel primordial da escuta”. Pegue toda essa empatia que você já tem dentro de si e vá ao mundo ouvir, de verdade, as pessoas. Pergunte. Escute.

A antropóloga acha que, infelizmente, “empatia” está virando uma palavra da moda, perseguida com certa ansiedade por empresas. Eu não acho esse fenômeno de todo mal (vamos ser mais empáticos nem que seja por pressão do mercado!). Mas para Zatorre, isso gera uma “busca obsessiva pela empatia desconectada da realidade, dos problemas reais das pessoas”. Percebeu o erro? Empatia, ok massa! Desconexão, opa aí não.

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O que eu entendi do super artigo da Carolina Zatorre foi o seguinte:

Nós temos a capacidade de ver o que temos de igual com o outro. Ela fala sobre ver no que somos diferentes também, e destaca o conceito de alteridade. Isso quer dizer, a habilidade de entender o outro, o diferente, sem fazer juízo de valor. É a arte de entender que aquilo que não faz sentido para você pode fazer sentido para o outro. É abrir mão dos nossos parâmetros pessoais na hora de entender a experiência do outro.

Para mim, alteridade na prática quer dizer diversidade. Para superarmos nossos pontos de desconhecimento, temos que incluir o diferente. 

Em um exemplo prático, se eu tivesse que escrever agora uma lei para beneficiar populações indígenas, o que eu faria? Bom, acho que eu faria uso de toda a empatia do mundo e de toda pesquisa disponível. Mas aí, bem… você já percebeu o problema não é? Mesmo com muita boa vontade e estudo, eu não entenderia por completo a experiência de ser indígena. 

Talvez empatia seja só o primeiro passo. Alteridade vem em seguida. Imagino que os próximos passos venham com o protagonismo do outro. Índios fazendo leis para índios. E assim por diante. O poder compartilhado é a evolução da empatia.

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(Foto: Annie Spratt do Unsplash)

2 respostas para “Empatia tem limite?”

  1. Excelente texto, Suzana, parabéns!

    1. Obrigada, Hilton. Que bom que você gostou.

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