Gritei “exatamente!!!!” sozinha na minha cozinha ouvindo o podcast Retrato Narrado.
A minha alegria era por ter encontrado alguém que, muito eloquentemente, explicava a minha angústia.
Há tempos ando preocupada com a guerra cultural. Poderíamos passar horas conversando sobre isso mas, por enquanto, quero falar só de um ponto dessa batalha que tem tudo a ver com o dia de hoje. Se a sua cidade teve segundo turno, como a minha, hoje você está comemorando ou lamentando a vitória de um novo prefeito ou prefeita.
Durante a campanha, me incomodou, a demonização do outro. E mais que isso, a demonização como estratégia. Não estou negando que existem candidatos e “propostas” realmente ruins. Minha preocupação, não é necessariamente com a baixa qualidade de certas “ideias”. Minha agonia é perceber que algumas campanhas tinham como objetivo apenas evidenciar como o “outro lado” era falho.
Conversando com amigas sobre o pleito, mais de uma vez comentamos como a vitória parecia ser o objetivo final. A vitória não, a derrota do outro. Tivemos a impressão de que alguns candidatos não tinham plano ou vontade de realizar ações importantes para a cidade, mas sim provar que o opositor era uma péssima opção.
Na minha concepção, a vitória eleitoral é apenas um passo. Ser eleito não pode ser o objetivo final, mas sim, o meio pelo qual o político conquista a possibilidade de realizar o que realmente importa.
É nesse ponto que entra a minha preocupação com a guerra cultural. Será que queremos que nosso partido ou candidato(a) ganhe para que ele ou ela realize planos nos quais acreditamos ou queremos apenas vencer?
Meu grito na cozinha veio quando ouvi o episódio bônus do Retrato Narrado. O programa tem a proposta de contar a trajetória de figuras brasileiras importantes, da infância até o auge. A primeira série foi sobre o atual presidente e a hora extra, ao final, foi sobre o conselheiro do mandatário, Olavo de Carvalho. A repórter Letícia Duarte é extremamente maltratada pelo pseudo intelectual, mas consegue manter a postura e a presença de espírito para conseguir tirar várias lições da “conversa”.
Uma das conclusões dela tem a ver com guerra cultural, com o vencer por vencer. Vou transcrever aqui o trecho e espero que você pense “exatamente” aí na sua casa também:
“Em nome de quê? É como se a guerra cultural fosse um fim em si mesmo. Não existe um projeto de país. O cerne do “olavismo” é a destruição de tudo que é considerado “esquerdismo”, incluindo direitos humanos, meio ambiente, ciência, educação”.
Eu sei que você é uma pessoa boa e inteligente, e que não cai nessa conversa furada de Olavo. O problema é que a guerra cultural pode contaminar várias esferas de discussão porque vencer é muito bom. Essa não é uma briga que precisamos ganhar, é uma briga que precisamos acabar.
Agora que as eleições estão finalizadas, vamos lembrar de comemorar a vitória só um pouquinho pois essa não é a parte mais importante. Vencer tem que ser só o começo.
Foto: Erwan Hesry no Unsplash
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